Recorrida...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Manifesto Criolo!!!!!!

MANIFESTO CRIOLO

Cantando estas verdades
Que brotam da minha garganta
Até mesmo se espanta
Estes que têm a culpa
Sua incoerência sepulta
Ao negar o chão fronteiro
Entregando por dinheiro
A cultura que Eu me Agarro
Estão como o João de Barro
Chocando o Ovo Alheio!

Então Eu me manifesto
Na minha xucra linguagem
Deste jeito sobra coragem
Pra defender minha cultura
É com raça e com bravura
Legado herdado por mim
E o meu cantar sai assim:
Num versejar protestante
Aos que pisam o semelhante
Fazendo de trampolim!!!!

Não me sujeito às amarras
Desta gente infiel
Continuo o meu papel
Sempre firme na batalha
Meu verso nunca falha
Pois sustento a identidade
Ao cantar com propriedade
Hablando com sentimento
E mostrando meu lamento
Com as mazelas da sociedade

Pois cantando o meu chão
Legado dos ancestrais
Aos quatro pontos cardeais
Eu defendo o meu recanto
Pela pampa me levanto
Em uma luta incessante
Realidade constante
Que vai brotando rebeldia
Por ver tanta anarquia
Partindo dos governantes!

Tem tanta coisa passando
De qualquer jeito no más
Já me sinto quase incapaz
De dar um basta imponente
Pois com órgãos coniventes
Com a pobreza cultural
Município, estado ou federal
Numa gandaia de governo
Admitindo o atropelo
Da cultura regional

Se a mim chamam de bairrista
Por sustentar o que penso
Fica aqui meu consenso
De hereditária cultura
Se a minha simples figura
Lutando pela tradição
Abraçado ao violão
Num xucro e nobre ritual
Sou Latino e Universal
Por ser cantador do meu chão


Bruno Teixeira
Verão / 2010
Lua crescente

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Mais uma obra da nossa literatura criola!!!!!!

POEMA CIRCULAR
(Apparício Silva Rillo)


Não,
não me procurem mais
no meu velho endereço lá no campo.
Eu estou me mudando,
eu estou de mudança
estou mudado.

Compreendam:
no meu velho endereço lá no campo
só me havia ficado o coração
-já menos moço para os frios de agosto,
-para os ventos parados do verão.
O resto:
braços, pernas,
mãos, tronco e cabeça -
há muito tempo pagava fretes
num caminhão de carga que os trazia
pela fita do asfalto,
de um a um.

Claro,
vim aos pedaços,
como resistindo.
E quanto resisti!

Partido,
repartido,
a metade de lá chamava a outra
que tinha se mudado para aqui.

Eu ia.
e no meu velho endereço lá no campo
estava a bombacha vazia
no espaldar da cadeira.
E como é triste a bombacha vazia de seu dono!
O chapéu sem cabeça, nos cabides,
um lenço colorado sem pescoço,
as botas paralíticas
junto ao penico de louças, sob a cama,
-o meu jeito de andar perdido delas.

Não,
não me procurem mais
no meu velho endereço lá no campo.
Eu estou me mandando,
eu estou de mudança,
estou mudado.

Trouxe nas malas anos de recuerdos:
as esporas do avô, um mango retovado,
uma franja de pala, um barbicacho,
um estribo sem loro, uma cambona,
uma panela com terra,
um boizinho de argila, que não berra
e um cavalo de ventos para andar.

Tudo isso nas malas!
Elas que são o avesso da gente,
porque são íntimas de nós,
e nos carregam.

Não,
não mandem mais
a meu velho endereço lá no campo:
livros de versos, discos e romances,
revistas e jornais.
Nem aviso de amigos que morreram,
nem notícias de netos que chegaram
como o menino Jesus, pelos Natais.

Tudo isso:
-vinho de alma, pão para a matéria -
tem un novo endereço de remessa:
uma casa de brisa e tijolos
numa cidade que eu amei depressa
pelas raízes campeiras, que ainda encontro
nas ruas de seus bairros e travessas.

Ah, quanto cantei
-de alma limpa e boa boca,
em salmos e protestos e orações -
o meu terrunho onde deixei plantado
o que tive de melhor no coração!

Um dia, os que virão
hão de saber que estanciei por lá,
nessa casa amparada por retratos
que vigilam na sombra como guardas
de uma herança que eu não sei quem herdará!

Na casa,
fiéis como esses gatos que não mudam
embora se mude o dono e vá-se embora,
estarão os meus livros e a vitrola
para falarem por mim - pelos meus versos,
para cantarem por mim - pelas cantigas...

E assim me hão de encontrar os que saudarem
nos portais do terrunho, ó "Ó de casa!"
Que no meu tempo escancarava portas
e abria corações para os andantes.

Não,
não me procurem mais
no meu velho endereço lá no campo.
Eu estou mudado,
eu estou de mudança,
já mudei!